"Banalização da violência". França também vai usar série "Adolescência" para sensibilizar mais jovens sobre masculinidade tóxica

9 jun, 19:20
Owen Cooper na série "Adolescência" (DR/Netflix)

Ministério da Educação francês junta-se ao Reino Unido e aos Países Baixos na integração do êxito da Netflix nos programas escolares

A França vai seguir os passos do Reino Unido e dos Países Baixos ao permitir que a série “Adolescência”, da Netflix, seja usada nas escolas secundárias como ferramenta pedagógica para abordar temas como a masculinidade tóxica e os riscos associados ao universo digital.

O Ministério da Educação francês irá disponibilizar cinco aulas baseadas em excertos da mini-série, que tem sido aclamada pela crítica e gerado um debate global sobre o impacto de conteúdos misóginos disseminados online, sobretudo entre os mais novos.

Segundo a ministra da Educação, Élisabeth Borne, os direitos de utilização pedagógica foram cedidos pelo produtor da série — que, desde 1 de junho, se tornou a segunda série em língua inglesa mais vista de sempre na plataforma, com mais de 140 milhões de visualizações.

Em declarações à LCI, Borne sublinhou que os excertos escolhidos “são profundamente representativos da violência que pode existir entre os jovens” e que serão apresentados a alunos com cerca de 14 anos, acompanhados por materiais didáticos desenvolvidos especificamente para esse fim.

O objetivo, explicou, passa por alertar para os perigos da “sobreexposição aos ecrãs e da banalização da violência nas redes sociais”, bem como para a ascensão de ideologias masculinistas que incitam ao ódio e à violência contra as mulheres.

Lançada a 13 de março, “Adolescência” conta a história de um rapaz de 13 anos detido pelo assassinato de uma colega de turma, após ter sido radicalizado por conteúdos tóxicos online, incluindo os divulgados por Andrew Tate, um influenciador que se autodenomina misógino.

No Reino Unido, a série começou a ser usada em abril nas escolas secundárias, acompanhada por recursos educativos desenvolvidos por uma organização especializada em relações interpessoais. O primeiro-ministro Keir Starmer saudou a iniciativa, classificando-a como “importante”.

Também na Flandres, região de língua neerlandesa no norte da Bélgica, “Adolescência” foi integrada nos programas escolares. “A série mostra como a solidão e as influências digitais podem desviar os jovens quando não têm apoio suficiente”, afirmou Cieltje Van Achter, ministra flamenga dos Media, no parlamento regional.

Van Achter alertou ainda para um outro sintoma preocupante: o fosso crescente entre os adultos — incluindo professores — e o universo vivido pelos jovens. “É crucial apoiarmos tanto os docentes como os alunos, para que estes temas possam ser debatidos abertamente.”

Nos Países Baixos, a inclusão da série nos currículos foi proposta pela deputada trabalhista Barbara Kathmann. O conteúdo é acompanhado por materiais sobre influenciadores digitais e pressão entre pares, desenvolvidos por um instituto de estudos mediáticos em colaboração com a Netflix.

Em Portugal, por enquanto, apenas a presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV), Maria do Céu Patrão Neves, referiu que a série “originou um debate intenso na sociedade sobre a dependência digital dos menores” e que inspirou a elaboração de um parecer ético conjunto com a Espanha para “analisar riscos associados à dependência digital na saúde das crianças e jovens”. 

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