Têm objetivos e problemas em comum, mas também enfrentam desafios e precisam de apoios diferentes
Se sente que o seu filho adolescente é um mistério, estes dados podem ajudá-lo a compreender melhor o seu mundo.
Embora os rapazes e as raparigas enfrentem muitos dos mesmos problemas, incluindo pressão escolar e questões de saúde mental, podem necessitar de diferentes tipos de apoio, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center.
"Um dos nossos principais objetivos foi tentar compreender os desafios que os adolescentes enfrentam hoje em dia, em particular a forma como vivem a experiência escolar e se estas questões diferem consoante o género", diz Kim Parker, diretora de pesquisa de tendências sociais da Pew.
"Este ano, temos trabalhado muito na questão dos homens e da masculinidade, e parte dessa conversa envolve o que está a acontecer com rapazes e raparigas.”
O estudo foi realizado entre 18 de setembro e 10 de outubro de 2024 com 13.391 adolescentes dos 13 aos 17 anos.
Embora os dados revelem diferenças entre eles - como o facto das raparigas referirem uma maior pressão para se integrarem socialmente e terem uma boa aparência, enquanto os rapazes sentem que devem ser fortes e bons no desporto com mais frequência - muitas das suas perspetivas são semelhantes.
De acordo com os dados, tanto as raparigas como os rapazes afirmaram que era muito importante encontrar uma carreira de que gostassem, ganhar dinheiro e cultivar amizades.
"Tendemos a criar estereótipos negativos sobre os adolescentes, considerando-os superficiais nos seus interesses. Estes resultados são uma excelente forma de lembrar que os jovens levam a sério os estudos e que já pensam no seu futuro profissional", afirma a psicóloga Lisa Damour, autora de "The Emotional Lives of Teenagers: Raising Connected, Capable, and Compassionate Adolescents", que não esteve envolvida no estudo.
A pressão para ter um bom desempenho
De acordo com os dados, tanto os rapazes quanto as raparigas afirmaram sentir-se pressionados a tirar boas notas.
Para aqueles que não consideravam que essa pressão fosse divida de forma igual, tanto eles quanto elas achavam que as raparigas tiravam melhores notas e eram favorecidas pelos professores, segundo o relatório.
A sua perceção coincide com os dados existentes que mostram que, em média, as raparigas tendem a ter melhores notas do que os rapazes, diz Damour.
Mas as notas não são um jogo em que um ganha e o outro perde – o sucesso das raparigas na escola não significa necessariamente que os rapazes tenham um desempenho pior, afirma Annie Maheux, professora assistente de psicologia e neurociência na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e Winston Family Distinguished Fellow no Winston National Center on Technology Use, Brain and Psychological Development.
A disparidade pode ser um sinal de que algo no ensino não está a funcionar tão bem para os rapazes quanto deveria, observa Maheux, que não participou na pesquisa.
"As escolas estão estruturadas de tal forma que as crianças que ficam quietas e são menos impulsivas vão sair-se bem, e sabemos que há uma grande diferença no desenvolvimento cerebral no início da adolescência e que a parte do cérebro usada para o controlo de impulsos e o pensamento crítico se desenvolve mais tarde nos rapazes do que nas raparigas", diz Michelle Icard, educadora parental e oradora.
“Estamos a ensinar apenas metade dos alunos e precisamos de ampliar a forma como abordamos a educação”, refere Icard, que não participou no relatório.
Mais atividades e estilos de ensino que incorporem a aprendizagem prática, por exemplo, podem ajudar os adolescentes do sexo masculino a ter um melhor desempenho académico, aponta Icard, autora de “Fourteen Talks by Age Fourteen: The Essential Conversations You Need to Have With Your Kids Before They Start High School”.
Apoio nas amizades
Há boas e más notícias no que diz respeito ao que os adolescentes disseram sobre as suas amizades.
Apenas 2% dos adolescentes afirmaram não ter amigos, de acordo com o relatório da Pew. E embora o número de pessoas sem amigos idealmente fosse zero, é inferior ao esperado e considerado positivo, afirma Icard.
As amizades são especialmente importantes na adolescência, acrescenta.
"Os adolescentes estão numa idade em que é menos provável que procurem apoio num adulto. É natural que procurem os seus colegas antes de procurarem um adulto, e os colegas podem ser ótimos mediadores com os adultos, quando necessário”, refere Icard. "Mas se não houver alguém que diga: ‘Ei, esse é um problema que deves conversar com um adulto’, isso pode ser perigoso."
Embora a maioria dos rapazes tenha afirmado ter um amigo próximo a quem recorrer para pedir apoio, o número foi mais baixo (85%) em comparação com o das raparigas (95%), segundo os dados.
"Precisamos tentar acabar com o mito de que os rapazes não criam relações próximas", diz Damour. Mas, ao mesmo tempo, "precisamos levar muito a sério o facto de continuarmos a educar os rapazes para que sintam que é inaceitável demonstrar sentimentos de vulnerabilidade. E, enquanto fizermos isso, teremos rapazes e homens que não desfrutam do forte apoio social que merecem."
Diferentes expressões de saúde mental
Houve uma diferença na forma como os adolescentes do sexo masculino e feminino viam as suas dificuldades: ambos disseram que as raparigas eram mais propensas a sentir ansiedade e depressão e os rapazes eram mais suscetíveis a lutar contra o abuso de substâncias, envolver-se em brigas e perturbar as aulas, de acordo com os dados.
Mas estas conclusões não significam que um grupo esteja a enfrentar problemas de saúde mental e o outro apenas problemas comportamentais, de acordo com Damour.
"No âmbito da saúde mental, devemos incluir a conclusão de que os rapazes têm maior probabilidade de se envolverem em confrontos físicos", refere. "Como profissionais de saúde, sabemos há muito tempo que, quando estão em sofrimento, as raparigas tendem a retrair-se - foram educadas para se fecharem em si mesmas, o que as torna mais suscetíveis a sofrer de ansiedade e depressão. Quando os rapazes estão em sofrimento, têm mais tendência a agir de forma impulsiva e a meterem-se em sarilhos."
Embora medidas disciplinares possam ser apropriadas quando um adolescente está a abusar de substâncias ou a agir de forma inadequada, é importante que tal punição seja acompanhada pela compreensão de que o comportamento provém de sofrimento, que também precisa de ser abordado, afirma Damour.
"Quando vemos raiva num adolescente, pensamos: ‘Bem, isso não é depressão’, mas pode ser. Ou se vemos um rapaz a agir de forma imprudente, podemos pensar: ‘Ah, ele é insolente", acrescenta Icard. "Esse comportamento é um reflexo de que se sente desligado das outras pessoas. Portanto, não presumiria que os rapazes se sentem menos ansiosos e menos deprimidos."