Estes três homens juntos significam que a segurança da Europa nunca mais será a mesma
Alexander Kazakov/Kremlin/Sputnik/AP
“Um russo, um chinês, um indiano, um iraniano e um norte-coreano encontram-se num rua” pode até parecer o princípio de uma anedota. Mas “os líderes russo, chinês, indiano, iraniano e norte-coreano encontram-se numa parada militar” não é frase que dê vontade de rir. É uma demonstração de força. De parceria. Antiocidental. Esta semana. Neste preciso momento histórico.
Vladimir Putin enviou uma mensagem clara à Ucrânia e aos seus aliados europeus, escreve Ivana Kottasová: “Moscovo pode continuar, porque temos amigos poderosos.”
Amigos talvez seja exagero, as relações são mais de interesse – e até motivadas por um inimigo comum: o Ocidente. Mas a Rússia não teria conseguido manter uma guerra com mais de três anos – e que presumia ser curta – “sem o dinheiro chinês e indiano, as armas iranianas e, em menor grau, a mão de obra da Coreia do Norte”.
A Europa já não é apanhada de surpresa, mas ainda está desprevenida. Porque todo o esforço e dinheiro que vai avançar na sua defesa ainda não estão no campo. E porque os Estados Unidos também já não. Não, pelo menos, da mesma forma. Enquanto Trump se afasta, “a Europa luta contra os seus próprios desafios, incluindo o aumento do nacionalismo de extrema-direita e as pressões económicas.”
Leia a análise completa de Ivana Kottasová aqui.
Militares no desfile em Pequim desta quarta-feira, 3 de setembro, para comemorar o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. O desfile mostrou centenas de armas avançadas e contou com a presença de mais de 10.000 soldados, demonstrando o crescente poder militar da China sob a liderança de Xi Jinping para modernizar o maior exército permanente do mundo. (Foto Andy Wong/AP)
Quanto mais deste caos vamos viver?
Se ainda está a tentar compreender as palavras de líderes como Donald trump usando uma grelha racional de discurso, então adeus, game over. Até porque mesmo que Trump falhe, o que é questionável, “não voltaremos à velha ordem mundial”. Assim sugere o historiador literário Albrecht Koschorke, nesta bela entrevista que pode ler agora. “Bela”, entenda-se, porque “rica” no pensamento.
Comecemos por aqui: a Europa foi a carruagem da vanguarda do liberalismo, que tem como motivo central o “progresso”. Mas agora “o futuro já não se cumpre, não cumpre as suas promessas”. E o resultado é que “a narrativa liberal perdeu a sua coerência e força organizadora”. O enredo geral está desfeito. “E isto cria não só ansiedade política e social, mas também uma desorientação mais profunda, quase metafísica”.
Foi a segunda vez que a jornalista Joana Azevedo Viana entrevistou Albrecht Koschorke. A primeira foi em 2016 e pode ser relida aqui. Pode e deve, para se confirmar o tanto que mudou desde então no mundo e verificar que as piores previsões quanto à desagregação das instituições democráticas pecaram por defeito. Outro comparação: a entrevista de há nove anos teve como motivo a entrada do “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, em domínio público, questionando-se se tal poderia inspirar movimentos então emergentes de extrema-direita. A resposta talvez seja não: esses movimentos cresceram, mas o livro – cuja publicação do primeiro volume cumpre agora um século - não tem nada a ver com isso. Talvez porque os livros já não têm nada a ver com isso.
A "bíblia do movimento nazi" esvaziou-se de poder, concorda Albrecht Koschorke. "A extrema-direita atual avançou", diz, e "é alimentada por uma geração mais jovem de pensadores ideológicos, com influências diferentes e ferramentas de mobilização mais contemporâneas – e mais potentes"
Para combater a atual crise, é preciso "despolarizar as sociedades, olhar para as forças motrizes e não para os efeitos" dos discursos e narrativas que fogem aos factos, desafia Albrecht Koschorke. “A História sugere que os períodos de caos e desregulamentação são normalmente seguidos pelo aparecimento de novas instituições, novas elites e um consenso público renovado. A questão em aberto é: quanto caos vamos ainda viver?”
Para ler na íntegra aqui.
França entre a crise, a austeridade ou a negação
Se os portugueses fossem ressentidos, talvez estivessem agora a dizer “prova do teu próprio remédio, França”. Mesmo se o nosso trauma da austeridade de 2011-2014 teve como antagonistas políticos principais outros países, Alemanha, Finlândia, Países Baixos…
Uma década depois, a dívida pública de Portugal baixou, a de França escalou; nós temos excedentes, elas défices. As taxas de juro sobem, as agências de rating ameaçam. E se “os mercados” não estão a fechar-se a França como se fecharam a Portugal, nem está no horizonte nenhuma troika, a receita da austeridade apresenta-se como financeiramente inevitável num país politicamente indisponível.
O próximo passo é a provável nova crise política, com o primeiro-ministro, François Bayrou, a enfrentar um voto de confiança já na próxima semana. Os cortes de 44 mil milhões de euros, com congelamento de apoios sociais e uma nova “contribuição de solidariedade” para os ricos, não parecem ter espaço político para avançar. Mas terão espaço orçamental para recuar?
Quem está a ganhar a guerra?
O presidente russo, Vladimir Putin, disse esta sexta-feira que quaisquer tropas ocidentais na Ucrânia seriam consideradas "alvos legítimos para derrotar", um dia depois de ter sido anArtigosunciado que dezenas de países ocidentais se comprometeram a contribuir para uma potencial força de manutenção da paz no país, caso seja acordado um cessar-fogo.
"Esta é uma das causas fundamentais (da guerra): tentar envolver a Ucrânia na NATO", afirmou Putin, em declarações num fórum económico no Extremo Oriente da Rússia esta sexta-feira. "Portanto, se quaisquer tropas aparecerem lá, especialmente durante as hostilidades em curso, assumimos que serão alvos legítimos para derrotar."
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Trump e Putin culpam Europa pelo fracasso na paz na Ucrânia
Donald Trump e Vladimir Putin estão novamente em sintonia. A última reviravolta na errática diplomacia do presidente dos EUA em relação à Ucrânia ocorreu um dia depois de ter dito aos jornalistas que planeava falar novamente com Putin em breve para que pudesse decidir "o que vamos fazer". Trump recusou-se a dizer se aprovaria sanções diretas severas contra a Rússia caso Putin continuasse a retardar a sua iniciativa de paz depois de o presidente russo ter ignorado repetidos prazos de duas semanas, o último dos quais expira esta sexta-feira. "Seja qual for a sua decisão, ficaremos felizes ou infelizes com ela. E se ficarmos infelizes, vocês verão o que acontecerá", disse Trump na Sala Oval na quarta-feira.
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A CNN Portugal na Ucrânia
Maria João Caetano e Helena Lins, jornalistas da CNN Portugal, estão esta semana em Lviv, na Ucrânia, para acompanhar um encontro diferente. Um encontro de jovens. É a primeira edição do Enlargement CEmp, aqui explicada, e que junta 20 jovens portugueses e 20 jovens ucranianos durante quatro dias.
Leia aqui a reportagem em Lviv. E aqui como o break dance ajuda os refugiados da guerra a refazer a sua vida. E ainda aqui como jovens portugueses ouviram o que é perder um filho na guerra.
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O julgamento de Bolsonaro segundo Lula
Começou esta semana, num Brasil profundamente dividido, o julgamento de Jair Bolsonaro.O ex-presidente está a ser julgado no Supremo Tribunal Federal pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de património tombado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na nesta sexta-feira que o processo tem caráter jurídico, mas com conotação política, por ele ser ex-presidente.
Acompanhe o julgamento na CNN Portugal. E aqui, na CNN Brasil