O ator emitiu um comunicado, onde relata as agressões de que foi vítima e agradece o apoio que recebeu
O ator Adérito Lopes, agredido na última terça-feira à noite, por um grupo de indivíduos, com alegadas motivações neonazis, fala pela primeira vez do que aconteceu. Num comunicado emitido esta quinta-feira, o ator sublinha que foi “violentamente no rosto”, num ato de “cruel e brutal violência”.
“No passado dia 10, data em que me preparava para exercer o meu ofício – neste caso, representando a figura maior da nossa literatura, Luís Vaz de Camões –, na minha chegada ao teatro, fui absolutamente surpreendido por um cruel e brutal ato de violência, totalmente gratuito, sem que da minha parte tivesse havido qualquer ação em relação à pessoa do agressor ou em relação a qualquer outra pessoa ali presente”, relata.
O ator pede que “este vil ataque” de que foi vítima “tem de ser exemplarmente investigado e punido pela justiça, em homenagem a princípios constitucionalmente consagrados”. Com a justificação de não querer prejudicar a investigação, Adérito Lopes diz que não pretende, para já, pronunciar-se sobre o assunto. Garante que não o faz por medo, “mas pelo facto de entender que é à justiça que cabe resolver este assunto e também por não querer transformar este incidente num trampolim publicitário ou numa oportunidade mediática a favor do agressor e/ou de grupo de que alegadamente fará parte”
O ator informa que se fará representar pelos advogados Ricardo Sá Fernandes e Sandra Aguiar.
“Agradeço, comovido, todas as manifestações de afeto, indignação e respeito que tenho recebido de colegas, alunos, encarregados de educação, professores, artistas, políticos, amigos, cidadãos anónimos, órgãos de Estado e personalidades públicas. (…) Agradecendo igualmente ao coletivo d'A Barraca, e em particular a Maria do Céu Guerra, pela presença e postura destemida”, escreve ainda Adérito Lopes.
O ator termina o comunicado, invocando versos de Camões, a personagem que se preparava para interpretar na noite em que foi agredido: "E se eu mais der a cervis, a mundanos acidentes, Duros tiranos e urgentes, Cale-se esta confusão; cante-se a visão de paz."
Adérito Lopes foi agredido na última terça-feira à noite, à porta do teatro Cinearte – A Barraca, por um indivíduo pertencente a um grupo de extrema-direita. Preparava-se para entrar no teatro onde interpretaria a personagem de Luís Vaz de Camões, no espetáculo com entrada livre "Amor é fogo que arde sem se ver".
Em declarações à Lusa, a também atriz Maria do Céu Guerra contou que foi por volta das 20:00, estavam os atores a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos, quando se cruzaram à porta “com um grupo de neonazis com cartazes”, com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
“Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, afirmou a também encenadora, de 82 anos, que disse que o ator em causa, Adérito Lopes, teve de receber tratamento hospitalar.
O Ministério Público confirmou, na quarta-feira, a abertura de um inquérito para investigar a agressão contra o ator.