Acontece aos Melhores: Inês magoou-se num parque de trampolins, mas uma funcionária ocultou o acidente da gerência

25 fev, 17:48

Em novembro de 2022, Inês Loulé foi divertir-se com amigas ao maior parque de trampolins 100% português. Saiu de lá com um pé partido e envolvida numa confusão que a deixou pendurada e a precisar de uma cirurgia que custa três mil euros. Uma história que aconteceu em Rio de Mouro, concelho de Sintra

“Eu saltei e o meu pé ficou por baixo de mim”, relata Inês à equipa do Acontece aos Melhores. O raio-X não deixou margem para dúvidas: Inês tinha partido o pé. Foi encaminhada para um ortopedista.

“Eu, que vi a Inês chegar à clínica, perguntei a mim própria o que é que eu vou fazer neste caso”, confessa Carina Rebelo, a fisioterapeuta da jovem.

Inês foi aconselhada a entrar em contacto com o parque de trampolins a pedir a ativação do seguro de responsabilidade civil para que a empresa pagasse os tratamentos e a fisioterapia.

Assim o fez, porém disseram-lhe que nenhum responsável estava no espaço e que teria de repetir o contacto no dia seguinte.

“No dia a seguir, eu liguei e. quando falei com a responsável, ela disse-me que eu devia ter ligado no dia anterior para ativarem o seguro, porque só podiam ativar o seguro até 24 horas após a lesão”, conta.

É aqui que as coisas começam a não fazer sentido. Num dia Inês liga a pedir para ativarem o seguro, pedem-lhe para ligar no dia seguinte e aí já passou o prazo para esta ativação.

“O prazo que a senhora tem para reclamar alguma indemnização são 20 anos desde a data do evento”, explica a advogada Rita Garcia Pereira.

Inês insistiu com Inês Brojo Afonso, uma funcionária responsável pelo espaço que lhe pediu que enviasse todos os relatórios médicos e faturas com despesas relativas aos tratamentos.

“Ela dizia-me sempre que ia falar com a tesouraria para fazer os pagamentos, que ainda não tinham conseguido fazer os pagamentos e que iriam fazer a primeira transferência no início de janeiro”, relata a lesada.

Rita Garcia Pereira diz que “estes espaços de diversão têm de ter obrigatoriamente um seguro de responsabilidade civil para cobrir quer eventuais irregularidades com o seu próprio equipamento, quer lesões que ocorram no uso normal dos equipamentos”.

Inês conta que, numa das vezes que ligou para o espaço a pessoa com quem falou, que não era a habitual funcionária, lhe disse "que tinham ativado o seguro”. Por isso, a jovem de 26 anos ficou descansada.

Em 2023 começa a receber transferências bancárias de todas as despesas que apresentava. Chegaram-lhe várias transferências de 200, 300 e 500€. Só em sessões de fisioterapia, a jovem pagou mais de 3000€.

No entanto, as melhoras tardavam em chegar e, ao fim de um ano de tratamentos, as dores persistiam e tarefas tão simples como caminhar continuavam a ser insuportáveis.

Ao ser vista por um médico especialista, ele diz-lhe que é necessário ser submetida a uma laparoscopia, uma cirurgia que consiste na limpeza das articulações do pé que estão danificadas.

A operação, um passo essencial para Inês voltar a caminhar sem dor e com normalidade, custava cerca de 3 mil euros. Por isso, enviou um e-mail para a funcionária responsável pelo parque a informar da urgência e do preço da intervenção.

“Recebo, entretanto, uma chamada dela, do número de telemóvel pessoal dela, a dizer que percebia perfeitamente o meu lado, mas queria que eu percebesse o lado dela e queria explicar-me o que tinha acontecido”, conta Inês.

“Segundo ela, o que aconteceu foi que durante todo este ano, ninguém superior a ela sabia deste acontecimento e que ela me teria pagado tudo a título pessoal, da conta dela e pede-me para eu ter um bocadinho de pena porque ela poderia perder o emprego”, adianta.

Inês ficou incrédula. Ao longo de mais de um ano, em vez de receber dinheiro do seguro de responsabilidade civil do Up up ou até da empresa de trampolins, todos os tratamentos foram custeados por… uma empregada do espaço. Sem acreditar, foi verificar os extratos bancários.

Reparou então que os comprovativos de pagamento que lhe chegavam vinham com o nome da pessoa com quem tinha estado em contacto, Inês Brojo Afonso, e não do espaço de diversão ou de uma seguradora.

“Os pagamentos serem efetuados pela funcionária do espaço indicia que não foi feita participação à seguradora”, explica Rita Garcia Pereira. “Sempre que é acionada uma seguradora, quem efetua os pagamentos é a própria seguradora, sempre”, avança.

Estas transferências acentuam a suspeita de que, naquela altura, o UpUp operava sem um seguro de responsabilidade civil, uma ilicitude grave que implica multas no valor de até 30 mil euros.

Mais, “este facto adensa a suspeita de que possa ter sido a empresa a solicitar à funcionária que fizesse as transferências como forma de eventualmente procurar não reconhecer a sua própria responsabilidade”, afirma Rita Garcia Pereira.

A funcionária disse a Inês que iria falar com os seus superiores. Mais tarde, a jovem recebe a resposta que não esperava: “que não me iriam pagar mais nada e que ela estaria proibida de contactar mais comigo”.

E até hoje Inês Loulé ficou em suspenso, sem qualquer resposta e sem fazer a operação que tanto precisa, que chegou a ter marcada mas que teve de cancelar por não ter dinheiro para pagar.

“Tinha e tenho uma vida inteira pela frente e não quero ter este tipo de dores esta vida toda”, desabafa. “Eu queria apenas fazer a operação e que eles se responsabilizem por todos os valores que eu terei com este pé, na recuperação do pé. É só isso que eu quero, eu não quero mais nada”, acrescenta.

Fomos até ao UpUp procurar explicações. Lá, encontrámos Inês Brojo Afonso, a funcionária que, sem qualquer justificação plausível, pagou da própria conta bancárias os primeiros tratamentos a Inês Loulé. Surpreendida, não conseguiu explicar a atuação no mínimo duvidosa e remeteu esclarecimentos por escrito para a administração do espaço que, relembramos está obrigada por lei a pagar o processo de recuperação de Inês. Enviámos o pedido, mas ficámos até agora sem resposta.

Veremos as cambalhotas que esta história ainda tem para dar no futuro.

Quanto a nós, se tem algum problema que não consegue resolver, conte-nos a sua história. O e-mail é o do costume: aconteceaosmelhores@tvi.pt.

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