Posição dos bispos sobre abusos é “um insulto enorme”

Agência Lusa
4 mar 2023, 19:36

Catarina Martins, classificou de “insulto enorme” o teor da conferência de imprensa dos bispos portugueses, realizada na sexta-feira. Também o LIvre diz que “pedir perdão não chega” e pede que Igreja faça mais perante abusos

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, classificou hoje de “insulto enorme” o teor da conferência de imprensa dos bispos portugueses, realizada na sexta-feira, e pediu apoio para as vítimas e uma nova comissão independente.

“Não consigo explicar como é possível, ontem, os bispos terem achado que podiam fazer aquela conferência de imprensa, que não tenham percebido o insulto enorme a todas as pessoas católicas deste país”, disse Catarina Martins aos jornalistas, em Coimbra, à margem de suma sessão sobre habitação.

Notando que ao BE não cabe falar da Igreja, mas sim das “responsabilidades da sociedade”, Catarina Martins defendeu que o país deve agir.

“Se a igreja não vê o que tem de ver, nós enquanto sociedade devemos agir”, vincou a líder bloquista, pedindo apoio psicológico às vítimas de abusos sexuais, mas também apoio legal.

Por outro lado, Catarina Martins defendeu a existência de uma nova comissão independente, que possa continuar o “trabalho extraordinário” da atual e acusou a igreja portuguesa de ter encoberto os abusos e de o continuar a fazer.

“Se a igreja quer fechar os olhos, o país não pode fechar os olhos. E é preciso uma nova comissão independente e uma comissão independente que dê segurança às vítimas para fazerem as suas denúncias. E dê também segurança ao país, que ao proteger as vítimas e ao tirar consequências do que aconteceu, seja também capaz de tornar visível o encobrimento terrível que a igreja católica fez e continua a fazer”, acusou Catarina Martins.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, remeteu na sexta-feira eventuais indemnizações às vítimas de abusos sexuais para os seus autores, indiciando que não haverá lugar a indemnizações por parte da instituição.

"Quanto ao apoio às vítimas, a questão das indemnizações é clara, tanto no Direito Canónico, como no Direito Civil. Se há um mal que é feito por alguém é esse alguém que é responsável, para falar de indemnização", afirmou José Ornelas.

O prelado falava, em conferência de imprensa, após a Assembleia Plenária extraordinária, que se realizou em Fátima, dedicada, exclusivamente, à análise do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgado em 13 de fevereiro.

"Falar de ajuda e apoio às vítimas - que é justo que o tenham - isso é uma prioridade para nós", declarou, garantindo que "ninguém vai deixar de ter acesso a tratamento [psicológico] por falta de meios".

Insistindo que no Direito Canónico e no Direito Civil "as penas e indemnizações são do direito pessoal", o também bispo da Diocese de Leiria-Fátima reafirmou que a Igreja Católica quer fazer justiça "e a justiça faz-se com um procedimento reto e justo".

À pergunta sobre qual o tratamento para sacerdotes abusadores, José Ornelas reconheceu que é preciso cuidar não apenas das pessoas abusadas, como dos abusadores, caso contrário "são bombas vagantes".

"Para isso, aqui no país, precisamos de ter capacidade de encontrar soluções. Este é um dos temos consensuais não só os [para] bispos, mas também [para] as congregações religiosas", declarou, referindo que este é um dos pontos concretos que está em cima da mesa e que "pode servir para outras pessoas e que é importante, particularmente, neste caso".

Livre diz que “pedir perdão não chega” e pede que Igreja faça mais perante abusos

O partido Livre defendeu hoje que “pedir perdão não chega” e pediu à Igreja para fazer mais, apontando que os apoios anunciados “foram essencialmente um inconsequente memorial”.

“Pedir perdão não chega e ficámos a saber que os apoios que foram anunciados foram essencialmente um inconsequente memorial; apoio espiritual, psicológico e apoio psiquiátrico quando o que no mínimo se esperava é que o mesmo valor do investimento feito nas jornadas mundiais da juventude iniciasse já a criação de um fundo para indemnizar as vítimas”, refere o Livre num comunicado hoje divulgado.

No comunicado divulgado, o Livre diz que irá acompanhar várias iniciativas para enfrentar os crimes de abuso sexual.

“Acompanharemos as iniciativas, na revisão e alargamento dos prazos de prescrição para crimes de abuso sexual, em particular de menores, iniciativas de criação de mecanismos de apoio psicológico e acompanhamento aos sobreviventes destes crimes, o aumento de financiamento a estes apoios e o reforço de planos de informação e de combate aos abusos sexuais, a criação de linhas permanentes de apoio e de serviços dedicados no SNS; a articulação com instituições da sociedade civil já no terreno, e a criação de uma comissão análoga, multidisciplinar, para alargar o trabalho agora iniciado aos abusos sexuais de menores na comunidade e, sobretudo, à sua prevenção”, regista.

Na ótica do partido representado na Assembleia da República por Rui Tavares, a edução e sexual e a informação são ferramentas preventivas básicas para que as crianças sejam capazes de “identificar, designar e transmitir aos adultos” dados para combater os abusos.

O Livre insistiu que o “critério cimeiro” passa por não falhar “às pessoas que deram o seu testemunho”.

“Aquilo que esperamos todos é consequência contra o silenciamento e a impunidade. Tudo continuaremos a fazer para acima de tudo, não acrescentar às suas vozes palavras vãs”, conclui o partido.

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