Pedidos de ajuda de homens vítimas de abusos aumentam 38%. Alguns, relacionados com a igreja, precisaram de apoio após a divulgação do relatório

4 mai 2023, 13:06
Ângelo Fernandes

Só no último mês de abril, a associação Quebrar o Silêncio registou 18 novos pedidos de ajuda, num total de 58 novos casos no primeiro quadrimestre de 2023

A Associação Quebrar o Silêncio, que apoia rapazes e homens vítimas de abusos sexuais, tem registado um aumento de pedidos de ajuda. Nos primeiros quatro meses deste ano, a associação registou 58 pedidos de ajuda, com uma média de 14,5 casos novos por mês, um aumento de 38% face a 2022, cuja média mensal foi de 10,5 novos casos.

“Falar não necessariamente informa e constatámos que o impacto mediático da divulgação do relatório de abusos sexuais na Igreja teve impacto, mas não foi o único ou o principal motivo que levou mais homens e rapazes a pedirem-nos ajuda. O único momento mais significativo foi a divulgação do relatório, a 13 de fevereiro, em que verificámos um aumento de pedidos de ajuda, com alguns casos relacionados com abusos na igreja. Tirando isso, seguimos o nosso trabalho normal”, revela Ângelo Fernandes, fundador e diretor técnico da Associação Quebrar o Silêncio.

O responsável alerta que a mediatização dos casos, por um lado, desperta consciências, mas, por outro, acorda memórias e traumas adormecidos. “A divulgação do relatório da Igreja teve impacto mediático muito grande com descrições muito gráficas, que acabaram por desencadear memórias nas vítimas e a necessidade de pedir ajuda. As vítimas não têm descanso. Não tem um momento de tranquilidade. Quando não são notícias, são as redes sociais, são as conversas em casa… que desencadeiam memórias, flashbacks, traumas”, diz Ângelo Fernandes.

A Associação Quebrar o Silêncio nasceu em 2017 e já ajudou 652 homens e rapazes vítimas de abuso sexual. “Com o nosso trabalho de sensibilização, temos conseguido criar um espaço que leva as pessoas a reconhecer que a violência sexual afeta também homens e rapazes”, considera o fundador.

“Sabemos que este aumento, apesar de significativo, continua a não representar a realidade dos homens e rapazes que foram vítimas de violência sexual, uma vez que são poucos os homens vitimados que procuram ajuda. Apesar de ser noticiado frequentemente, este é um tema que continua a ser tabu e não é fácil para as vítimas partilharem as suas histórias de abuso”, refere Ângelo Fernandes.

A associação Quebrar o Silêncio reforça que não há um perfil dos sobreviventes, clarificando que qualquer homem ou rapaz pode ser vítima de violência sexual. Os homens e rapazes que recorrem à associação têm uma média de 39 anos, “num universo de idades que vai dos 16 aos 70 anos”. “Vêm de todas as regiões de Portugal e também de outros países como é o caso dos portugueses que estão emigrados e que não têm acesso a respostas como a Quebrar o Silêncio. A nível de escolaridade, estado civil, profissão e de outras características, o espectro é bastante diversificado e não é possível traçar um perfil dos sobreviventes”, indica o representante da associação.

Patrocinados