Após ter defendido que padres arrependidos deviam ser perdoados, bispo de Beja volta atrás e diz que “não há lugar para abusadores”

Agência Lusa , DCT
12 mar 2023, 18:41
Igreja, padres, religião, crucifixo, cruz. Foto: AP Photo/Gerald Herbert

No comunicado, João Marcos clarificou o seu pensamento sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, considerando que “os abusos de menores são da máxima gravidade” e que “os seus efeitos são devastadores”.

O arcebispo de Beja, João Marcos, pediu desculpa após ter sugerido que os padres suspeitos de abusos sexuais, se estiverem arrependidos, deveriam ser perdoados e defendeu agora que “não há lugar para os abusadores no sacerdócio”.

Num comunicado publicado na página da rede social Facebook do jornal diocesano Notícias de Beja, consultado hoje pela agência Lusa, o prelado admitiu ter falhado nas declarações que deu à SIC, na semana passada, sobre o tema dos abusos sexuais na Igreja.

“Por meu desacerto no modo e na oportunidade do que disse, dei a entender que subestimo a enorme gravidade dos abusos sexuais de menores e que o perdão de Deus permite ao abusador retomar a sua vida normal como se nada tivesse acontecido”, frisou.

Sublinhando que “de nenhum modo” é esse o seu pensamento sobre o tema, o arcebispo de Beja disse compreender “a deceção” que provocou com as declarações “dentro e fora da Igreja” e “a todos” pede agora perdão.

No comunicado, João Marcos clarificou o seu pensamento sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, considerando que “os abusos de menores são da máxima gravidade” e que “os seus efeitos são devastadores”.

“Se praticados por homens dedicados a Deus, são ainda mais graves e são blasfémias”, vincou.

O prelado alentejano defendeu que “não há lugar para os abusadores no sacerdócio”, realçando que “as suspeitas verosímeis obrigam a tomar medidas que evitem todo o perigo sobre menores, incluindo o afastamento das tarefas pastorais”.

“A investigação deve ser rápida e seguir as regras claras definidas pelo Papa Francisco. A colaboração com as autoridades deve ser plena e deve ser cumprida plenamente a lei civil e penal”, assinalou.

Quanto às vítimas dos alegados abusos, concluiu, “têm de ser uma prioridade” e as “suas necessidades de apoio e reparação devem nortear” o acompanhamento da Igreja.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’” deste fenómeno.

A comissão entregou aos bispos diocesanos listas de alegados abusadores, alguns ainda no ativo.

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