Margaret Atwood ganhou fama através das distopias. Agora, quer construir um futuro mais risonho

CNN , Oscar Holland e Christiane Amanpour
25 dez 2021, 12:00
Margaret Atwood. Foto: AP Photo/Alastair Grant

A escritora Margaret Atwood imaginou uma sociedade futura que aprisiona cidadãos cumpridores ("O Coração Vai Passando "), um mundo pós-apocalíptico cheio de criaturas geneticamente modificadas ("Oryx e Crex") e o mais conhecido, uma teocracia que obriga mulheres férteis a terem filhos para os privilegiados a ("A História de Uma Serva").

Agora, no entanto, quer criar uma visão mais positiva do futuro.

No próximo ano, a romancista e poetiza canadiana dará novo curso online intitulado "Utopias Práticas: Uma Exploração do Possível." Abordando questões desde a desigualdade social aos cuidados de saúde, o programa de oito semanas colocará os participantes em salas virtuais com peritos de várias áreas para desenvolver soluções para os maiores problemas da sociedade.

"Não apareço com respostas formadas", declarou Atwood a Christiane Amanpour da CNN. "A ideia geral é que... as pessoas se reúnam, ponderem nos desafios que temos pela frente atualmente e que os eliminemos."

Apresentado pela plataforma de aprendizagem online Disco, o curso terá os participantes a juntarem-se a seminários virtuais com a autora. Depois, participarão em workshops ao vivo e vão desenvolver "soluções concebidas em conjunto " para apresentar a Atwood, que, numa ocasião, foi considerada a "profeta da distopia" pela revista “New Yorker”.

"Vamos considerar coisas como por exemplo: que tipo de vestuário, que tipo de alimentação ou que tipo de casas (vamos precisar)?" declarou. "O nosso maior desafio neste momento é a crise climática... E vamos ter de ver os custos e benefícios, porque não há almoços gratuitos."

"Se se decidir, por exemplo, que vamos todos ter jardins verticais“, acrescentou, referindo-se ao uso de edifícios e paredes para criar vida vegetal, "Então, o que se vai fazer em relação a tempestades de vento?"

A vida imita a arte

Atwood usou a sua escrita para explorar as possibilidades sombrias do futuro próximo, admitindo que as utopias literárias são "bastante maçadoras" porque "tudo é perfeito." O seu livro mais conhecido, "A História de Uma Serva", imagina a vida na fictícia República de Gilead (uma região que foi em tempos Cambridge, no Massachusetts) após o declínio ambiental ter um impacto tal na fertilidade humana que um regime autoritário assume o controlo do corpo das mulheres.

Numa entrevista televisiva muito abrangente, a escritora disse à CNN que "está mais estupefacta do que se imagina" sobre quantas ideias do romance de 1985 estão agora a acontecer, desde a emergência de leis do aborto muito restritivas, à erosão da democracia americana. O fictício Dia do Massacre do presidente, um ataque violento ao Capitólio dos EUA, até continham um presságio arrepiante da insurreição de 6 de janeiro deste ano.

Protesto nos Estados Unidos, durante a presidência de Trump, com mulheres vestidas como as servas imaginadas por Atwood. Foto: AP Photo/J. Scott Applewhite

"O sistema da fundação dos Estados Unidos não era uma democracia. Era uma teocracia no século XVII, e era puritana", declarou ela, acrescentando que "os sistemas não desaparecem simplesmente, podem ser desenvolvidos e acrescentados, mas não desaparecem com o tempo nem com a mente das pessoas."

Atwood disse que o seu famoso romance, que foi adaptado para televisão em 2017, se baseou em precedentes históricos e avisou que "não colocou nada em ‘A História de Uma Serva’ que já não tivesse acontecido."

"Por todo o mundo e voltando atrás no tempo, este tipo de totalitarismos existiu. Por isso, a minha pergunta era: se existisse uma nos Estados Unidos, que forma assumiria?"

Ela previu que qualquer tirania futura nos EUA terá "Muito Deus, muitas bandeiras americanas e muitos 'voltemos aos velhos tempos.'" Mas perguntou: "Quando foram esses velhos tempos e o que se passava neles?

"Não se pode separar nada do que se passa nos Estados Unidos da sua história de escravatura e denominada reconstrução, e das leis de Jim Crow e da segregação. Tudo isso é muito recente."

"Nunca acreditei na excecionalidade", acrescentou. "Nunca acreditei que (isso) não possa acontecer aqui."

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