Jurista russa que trabalha na Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara de Setúbal foi afastada

29 abr 2022, 14:06

Uma reação que surge depois de o jornal Expresso ter denunciado que os funcionários russos daquela autarquia, que são responsáveis pela linha, estão a fotocopiar os documentos dos refugiados ucranianos, entre os quais passaportes e certidões das crianças

A Câmara Municipal de Setúbal afastou a jurista russa Yulia Khashinada que, desde dezembro, trabalha na Linha de Apoio aos Refugiados (LIMAR), depois de o jornal Expresso ter denunciado que os responsáveis russos pela linha estão a fotocopiar os documentos dos refugiados ucranianos, entre os quais passaportes e certidões das crianças.

O marido desta mulher, Igor Khashin, é o líder da Associação de Imigrantes dos Países de Leste (Edintsvo) que trabalha com a autarquia e tem ligações direta à Embaixada da Rússia em Portugal.

"Face à situação criada, a Câmara Municipal, retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior citada na notícia até ao total e inequívoco esclarecimento desta situação", lê-se na nota publicada no Facebook.  

Neste mesmo comunicado, confirma aquilo que o presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha, revelou em declarações à CNN Portugal: que Igor Khashin trabalha há vários anos com entidades da administração central e que tem prestado apoio no acolhimento de refugiados, nomeadamente, nas instalações de alguns serviços da câmara setubalense.

Câmara questionou Costa sobre associação de Igor Khashin após notícia da CNN Portugal

Mas já há duas semanas, depois de a embaixadora da Ucrânia em Portugal ter revelado, em exclusivo à CNN Portugal, que havia associações pró-russas infiltradas em Portugal - entre elas a Associação de Imigrantes dos Países de Leste - que podiam estar a "receber dados sobre familiares que combatiam no exército ucraniano", a Câmara Municipal de Setúbal "questionou formalmente e no próprio dia" o primeiro-ministro António Costa para que este se "pronunciasse sobre a veracidade destas declarações e esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação". Mas, diz o comunicado, não obteve qualquer resposta.

Não obstante, a autarquia vai pedir ao Ministério da Administração Interna que "adote, de imediato, os necessários procedimentos no sentido de averiguar a veracidade das suspeitas veiculadas pelo jornal Expresso" e mostrou-se totalmente disponível para prestar qualquer esclarecimento ou informação adicional. 

No meio de tanta polémica, a câmara comunista, dirigida por André Valente Martins - do Partido Ecologista "Os Verdes" e eleito pela lista da CDU nas últimas eleições autárquicas - decidiu esclarecer que desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro, que tem "um serviço de atendimento a refugiados ucranianos", que tem "prestado todo o apoio necessário ao acolhimento destas pessoas" em "permanente articulação com diferentes entidades, nomeadamente a Segurança Social, o Alto Comissariado para as Migrações, o Instituto de Emprego e Formação Profissional e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras" e, por isso, "repudia com veemência qualquer insinuação de quebra de sigilo no tratamento de dados de cidadãos ucranianos acolhidos nos seus serviços".

Entretanto, o Governo já pediu esclarecimentos com urgência ao Alto Comissariado para as Migrações. O PSD e a Iniciativa Liberal já requereram, entretanto, a audição do presidente de Câmara Municipal de Setúbal na Assembleia da República para esclarecer as notícias.

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