Chegou a vez da defesa de Amber Heard. Especialista conta como Johnny Depp era "obcecado com infidelidade" e reagia com violência sexual

4 mai 2022, 11:04
Johnny Depp (EPA/JIM WATSON)

Ao 13.º dia de julgamento, os advogados de Depp encerraram a sua parte do caso e começaram a ser ouvidas as testemunhas da atriz. Especialista relatou a alegada violência de Johnny Depp contra Amber Heard. Aviso: este artigo contém descrições violentas

O julgamento que coloca Johnny Depp e Amber Heard frente a frente entrou numa nova fase, depois de os advogados do ator terem terminado as alegações do caso. Ao longo de 13 dias, mais de duas dezenas de testemunhas chamadas pelos advogados de Depp foram ouvidas em tribunal, incluindo o próprio ator, e várias testemunharam sobre as discussões explosivas entre o ex-casal.

Minutos depois de os advogados de Depp encerrarem o caso, esta terça-feira, a defesa da atriz pediu que o processo contra Heard, no qual Depp exige 46 milhões de euros à ex-mulher por difamação, fosse arquivado, argumentando que Depp não conseguiu provar que tinha sido alvo de difamação. No entanto, a juíza negou o arquivamento por considerar que as provas apresentadas são suficientes para permitir que o caso prossiga.

De acordo com o jornal The Guardian, perante a decisão da juíza Penney Azcarate, começaram a ser ouvidas as testemunhas chamadas pela defesa de Amber Heard, sendo a primeira Dawn Hughes, especialista em violência interpessoal. 

Amber Heard no 13.º dia de julgamento  (EPA/JIM WATSON)

No banco das testemunhas, Hughes fez uma descrição gráfica da alegada violência de Johnny Depp contra Amber Heard, afirmando que, em consequência da "violência íntima pelo parceiro, o senhor Depp”, a atriz desenvolveu stress pós-traumático. Para chegar a esta conclusão, a especialista fez uma "avaliação objetiva" de Herd de mais de 21 horas, consultou registos médicos, notas de tratamentos psicológicos, testemunhos do caso de difamação no Reino Unido e falou com a mãe da atriz.

Segundo Hughes, Heard tinha “sintomas claros” consistentes com violência interpessoal “caracterizada por violência física, agressão psicológica, violência sexual, controlo coercitivo e vigilância”, rejeitando assim a alegação de que a atriz teria fingido os sintomas de stress pós-traumático, como alegou a especialista da defesa de Johnny Depp, Shannon Curry.

"Ela aprendeu muito cedo como lidar, como viver numa situação de caos, como tratar de um progenitor que desmaiou por causa da heroína. Ela aprendeu muito cedo a lidar com isso. Esse ambiente ensinou-lhe que ela podia amar alguém que a magoava. Ela aprendeu a ter esta tolerância para a inconsistência cognitiva, para duas emoções que deveriam ser diametralmente opostas”, afirmou a especialista, dizendo ainda que Heard tentou fazer com o ex-marido o mesmo que tentou fazer com os pais: "Livrá-lo dos problemas de abuso de substâncias”.

Ciúmes doentios de Depp

A especialista, que já foi testemunha nos casos do fundador do Nxivm, Keith Raniere, e do cantor R. Kelly, e que ajudou a que os dois fossem condenados, revelou ainda em tribunal que as mensagens trocadas entre o ex-casal podem ser consideradas como uma prova de abuso emocional, de como Johnny Depp sofria de ciúmes doentios e tentava controlar a ex-mulher quando esta não estava com ele.

Dawn Hughes, especialista em violência interpessoal, ouvida em tribunal a 3 de maio (EPA/JIM WATSON)

Segundo Hughes, o ator era "obcecado com infidelidade" e chegou mesmo a telefonar para atores ou realizadores com quem Amber Heard trabalhava para os ameaçar. Quando a atriz recebia guiões, Depp lia-os, procurando por cenas românticas e acusava constantemente a ex-mulher de o trair, sendo "obcecadamente ciumento" de James Franco.

"Ela teve que tentar esconder e trabalhar à volta dele para tentar ter a carreira que queria", afirmou a psicóloga, que contou ainda em tribunal o episódio do voo de 2015 em que Depp "começou a falar sobre James Franco" e disse a Amber que "esperava" que ela se tivesse "divertido com a escapadela". "Depois deu-lhe um pontapé nas costas e ela caiu de frente".

Segundo Hughes, a maioria destes episódios de violência e de violência sexual aconteciam quando Depp vivia "momentos de raiva movidos a álcool e drogas". 

Penetrada com uma garrafa

Amber Heard e Johnny Depp viviam o que, nas palavras de Dawn Hughes, pode ser descrito como uma relação "altamente volátil e altamente prejudicial", marcada pelo álcool, pelas drogas e por episódios de violência sexual. 

"Quando o senhor Depp estava alcoolizado ou drogado, atirava-a para a cama, rasgava-lhe as roupas e tentava ter sexo com ela. Houve vezes em que ele a forçou a fazer-lhe sexo oral quando estava chateado e momentos de domínio para tentar ter controlo sobre ela".

Segundo a especialista, num dos episódios de violência, o ator acusou a ex-mulher de ter estado a flirtar com outra mulher e "procurou ostentivamente por drogas" nas cavidades íntimas de Heard.

Mas, de acordo com Hughes, foi durante os tempos que passaram na Austrália, que Amber Heard foi sujeita aos piores episódios de violência sexual pelo marido, chegando mesmo espancada, estrangulada e penetrada com uma garrafa enquando o marido gritava: "Vou-te matar, odeio-te, odeio-te".

"A senhora Heard contou-me que “saiu do corpo” e que a única coisa que conseguia pensar era: 'Oh Deus, espero que não seja a [garrafa] que está partida'", descreveu.

Problemas com drogas e dependência emocional

Esta terça-feira, foi ainda exibido em tribunal o depoimento pré-gravado da enfermeira de Amber Heard, Erin Falati. Segundo a profissional, a atriz tinha problemas com álcool e com cocaína e lidou sempre com problemas de ansiedade, ciúmes, assim como sofria de dependência emocional nas relações, incluindo com Johnny Depp.

“Lembro-me de uma sensação geral de desavenças no relacionamento… Discussões, reconciliações e esse tipo de padrão repetitivo”, afirmou Falati.

O caso, que começou a 11 de abril, deve durar seis semanas a ser julgado. Ao longo de quatro dias, Johnny Depp prestou depoimento, sendo confrontado com mensagens, vídeos e áudios das discussões enre o casal. Já Amber Heard deve ser ouvida no final desta semana.

Neste processo de difamação, Depp exige 46 milhões de euros à ex-mulher, tendo a atriz avançado com acusação semelhante, mas exigindo 93 milhões. 

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