Festas do Povo de Campo Maior classificadas Património Cultural Imaterial pela UNESCO

CNN Portugal , Lusa
15 dez 2021, 15:14
Festas do Povo em Campo Maior (Lusa/EPA/NUNO VEIGA)

Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, ‘engalanadas’ com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária

As Festas do Povo de Campo Maior foram classificadas Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

O juri antecipou a votação para esta quarta-feira, tendo destacado as festas portuguesas. A inscrição como Património Cultural Imaterial das festas comunitárias portuguesas, na vila de Campo Maior, na região do Alentejo, foi aprovada ao início desta tarde, na 16.ª reunião do Comité do Património Mundial da UNESCO, que está a decorrer em Paris (França), até sábado.

“Inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI) desde 2018, as Festas do Povo de Campo Maior, no distrito de Portalegre, são  uma manifestação de arte popular pública, sem periodicidade definida, que consiste na mobilização geral da comunidade com vista à decoração das ruas da vila com flores de papel, que resulta na transfiguração da vila de Campo Maior durante os dias das Festas, criando um “espaço cénico que arquiteta e edifica uma rua dentro da rua que projeta a cidade ideal, colorida, em festa, de portas abertas e sem distinções sociais”, lê-se no site da Direção-Geral do Património Cultural.

Festa com séculos de tradição

Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, ‘engalanadas’ com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária.

Promovidos pela Associação das Festas do Povo de Campo Maior (AFPCM), os festejos na vila alentejana eram já reconhecidos internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a prepararem a ornamentação das ruas durante meses a fio.

Esta tradição, identitária de Campo Maior, tem vindo a ser transmitida de geração em geração, oralmente e de forma informal, com os mais velhos a ensinarem aos mais novos os ‘segredos’ da elaboração das flores que ornamentam os espaços públicos da vila.

A candidatura à UNESCO foi promovida pela Câmara, AFPCM e a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo.

Das flores à arquitetura, os argumentos

Um dos coordenadores do dossiê, Joao Custódio, explicou à agência Lusa, no sábado, que a preparação da candidatura foi um trabalho “muito complexo” e “demorado”, focado em demonstrar as características “únicas” deste evento.

“Foi um processo demorado”, iniciado em 2014, e “muito complexo”, que “implicou uma equipa multidisciplinar”, com “sociólogos, historiadores, antropólogos, muita gente”, disse.

A elaboração do dossiê focou-se “numa série de aspetos” para “dar a conhecer” as festas da vila, que só se realizam quando o povo quer, e a forma como se tornaram “únicas” face a outros eventos onde existem também flores de papel.

“A flor de papel não é algo exclusivo das Festas de Campo Maior, existem vários eventos que usam este tipo de decoração. Evidentemente, a qualidade do trabalho destas festas é um elemento muito importante, porque é, de facto, diferenciador”, argumentou.

Mas há também “outras características da festa que as tornam únicas e o dossiê focou-se muito nesses aspetos”, acrescentou.

O “elevado” número de voluntários que fazem flores, o facto de as festas só se realizarem quando o povo quer ou a figura do ‘cabeça de rua’, uma espécie de ‘capitão de equipa’, foram alguns dos aspetos mencionados na candidatura.

No dossiê enviado à UNESCO, foram também abordados outros temas que tornam estas festas “diferentes”, como “a arquitetura efémera” e a forma como a vila, “da noite para o dia, se transforma por completo” com as flores de papel.

A via pública passa “a ser quase privada, porque passa a ser a minha rua”, enquanto, em sentido contrário, “a propriedade privada passa a ser pública, porque a minha casa está praticamente aberta para os visitantes”, disse.

Durante o processo de investigação feito pela equipa multidisciplinar que preparou a candidatura, foi possível apurar que as festas têm uma ligação ao culto de São João Batista, que é o padroeiro da vila de Campo Maior, relatou o coordenador.

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