Vacina da Pfizer perde eficácia com a Ómicron, mas ainda protege da doença grave, aponta estudo sul-africano

8 dez 2021, 00:42
Ala de isolamento para infetados com a variante Ómicron na Índia (Ajit Solanki/AP)

Existe uma diferença nos esquemas vacinais, nomeadamente naqueles que foram vacinados e aqueles que foram infetados antes de receberem a vacina

Um estudo conduzido na África do Sul dá uma primeira ideia de como as vacinas se comportam perante a nova variante da covid-19. De acordo com experiências realizadas em laboratório, a Ómicron parece diminuir a eficácia da vacina da Pfizer, mas quem tenha levado uma dose de reforço deve estar mais protegido.

O estudo, publicado esta terça-feira, foi realizado pelo Instituto de Pesquisa de Saúde de África, em Durban, cidade do país onde esta mutação terá surgido.

As descobertas apontam que os anticorpos produzidos por pessoas vacinadas têm muito menos sucesso em impedir a infeção das células com a Ómicron, em comparação com as outras variantes. Na prática, aquilo que os dados parecem indicar é que as pessoas vacinadas são mais vulneráveis a uma infeção com Ómicron do que com outra variante.

Os cientistas admitem que as descobertas podem ser preocupantes, mas dizem que não é caso para pânico, até porque o estudo realizado é ainda muito preliminar, nomeadamente naquilo que é a proteção em relação às formas graves da doença, que podem conduzir à hospitalização ou à morte. O diretor do instituto africano, Willem Hanekom, reitera que "todos os especialistas em vacinação concordam que as vacinas ainda protegem contra a doença grave e morte em relação à Ómicron", apelando a que "todos se vacinem".

"Embora pense que vão existir muitas infeções, não estou certo de que isso signifique o colapso dos sistemas. Diria que [a variante] ficará sob controlo", afirmou o virologista Alex Sigal, que liderou a pesquisa, e falou ao The New York Times.

O trabalho dos especialistas surge apenas duas semanas depois de se ter começado a falar na Ómicron, uma variante considerada de preocupação pela Organização Mundial de Saúde, e os resultados até são melhores que os esperados. É isso que diz Alex Sigal, que começou por temer que a Ómicron pudesse escapar totalmente à proteção das vacinas: "Aí todos os nossos esforços seriam deitados para o lixo", disse, com alívio.

Para o estudo conduzido, os investigadores utilizaram anticorpos de seis pessoas que receberam a vacina da Pfizer sem que antes tivessem apanhado covid-19. Adicionalmente, foram também estudados os anticorpos de outras seis pessoas, mas que tinham sido infetadas e também vacinadas.

A equipa encontrou grande diferenças nos dois casos. Os anticorpos daqueles que não tinham sido infetados decaíram claramente, enquanto cinco das seis pessoas que foram infetadas antes da vacinação apresentaram respostas imunitárias fortes.

A conclusão aponta que todos os casos tiveram um desempenho pior perante a Ómicron, em relação a outras variantes. No geral, a eficácia dos anticorpos caiu drasticamente, para cerca de 42 vezes menos do nível testado com a versão anterior do vírus, um número que não surpreendeu Theodora Hatziioannou. A virologista da Universidade Rockeffeller admitiu ao The New York Times que estes são os números esperados.

Esses mesmos resultados podem explicar a rápida propagação que se tem assistido em vários países, a começar pela África do Sul, mas que passa também por Portugal, que tem confirmados 37 casos em pouco mais de uma semana. Um exemplo ainda melhor é um caso na Noruega, onde uma festa de Natal com 120 pessoas originou cerca de 60 casos de Ómicron entre pessoas vacinadas.

Sobre as doses de reforço, que começam a ser generalizadas em vários países (como é o caso de Portugal), Alex Sigal diz que não é possível perceber qual o efeito contra a Ómicron, preferindo esperar por dados mais concretos: "Quanto mais tivermos, melhores vamos ser".

A farmacêutica Pfizer, à imagem de outras empresas produtoras de vacinas, afirmou que está já a testar a eficácia do produto contra a Ómicron.

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